terça-feira, 25 de setembro de 2012

Adubação de enxofre em pastagens tropicais: qual a importância?

Adubação de enxofre em pastagens tropicais: qual a importância?



Mircéia Angele Mombach1, Bruno Carneiro e Pedreira2

1 Mestranda em Zootecnia – UFMT
2 Pesquisador – Embrapa Agrossilvipastoril


O enxofre é um elemento essencial para as plantas, pois participa da formação de substâncias determinantes para o valor nutritivo, desempenha funções vitais no metabolismo proteico e para as reações enzimáticas e influencia no metabolismo de carboidratos e gorduras (Oliveira, 2008).
Além disso, o enxofre é constituinte de aminoácidos essenciais como cistina, cisteína e metionina. Esse elemento também está ligado às vitaminas biotina e tiamina e é componente de moléculas envolvidas na fotossíntese, na fixação de N2 atmosférico (Rodrigues, 2002). Já no solo, o enxofre está presente nas formas orgânica e inorgânica. É preferencialmente absorvido pelas raízes na forma oxidada de sulfato (SO
4-2) produto oriundo da mineralização do enxofre orgânico (Malavolta, 1980).
Contudo, o enxofre trabalha em sinergismo com outros elementos, principalmente o nitrogênio que é o principal constituinte de aminoácidos. No solo, o enxofre aumenta a resposta da planta forrageira ao nitrogênio aplicado e pode melhorar a eficiência do uso do fertilizante nitrogenado (Martha Júnior, 2008). Essa dependência da eficiência de utilização do nitrogênio com a disponibilidade de enxofre é evidenciada em alguns trabalhos.
Pastagens tropicais, normalmente não são adubadas com enxofre, mas sim com outros nutrientes. Quando se aplica algumas fontes de nitrogênio, como sulfato de amônio, ou fontes de fósforo como superfosfato simples, geralmente contempla-se a necessidade da planta pelo enxofre. Caso não seja utilizada nenhuma adubação que forneça enxofre, este elemento deverá ser aplicado ao solo na forma de gesso agrícola ou de fontes de enxofre naturais.
O gesso agrícola, subproduto da indústria de fertilizantes fosfatados, permite corrigir a deficiência de cálcio na subsuperfície e reduzir a saturação por alumínio nas camadas mais profundas (Vileta et al., 2008). A opção de utilização do gesso como corretivo ou como adubo vai depender se serão utilizadas outras fontes de adubo que forneceram o enxofre para a pastagem e qual será objetivo do uso de gesso na pastagem.
Em relação a fontes complementares de enxofre, como sulfato de amônia e superfosfato simples, a escolha de cada um desses adubos irá depender da necessidade da pastagem na propriedade. Se a demanda for por aumento de produção ou até mesmo para manutenção, a escolha do sulfato de amônio é a melhor opção, pois fornece o enxofre e o nitrogênio, este último de suma importância para o crescimento da pastagem. Mas, ao se pensar em adubação para o estabelecimento da pastagem o superfosfato simples, é a opção, pois fornece o fósforo na forma solúvel (prontamente utilizável), indispensável para o crescimento de raízes e, ao mesmo tempo, fornece o enxofre que, após o estabelecimento da pastagem aumentará a resposta da planta forrageira ao nitrogênio aplicado.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MALAVOLTA, E. Elementos de nutrição mineral de plantas. São Paulo: Agronômica Ceres, 1980, 251p.

MARTHA JÚNIOR, G.B.; VILELA, L.; SOUSA, D.M.G. Adubação nitrogenada. In:
Cerrado: correção do solo e adubação. 2.ed. Embrapa, 2008. p.117-145

OLIVERIA, D.A. Características produtivas e valor nutritivo num ano de recuperação do capim-Braquiária com aplicações de nitrogênio e enxofre. 2008. 120f. Dissertação (Mestre em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/Universidade de São Paulo, Piracicaba.

RODRIGUES, R.S. Calcário, nitrogênio e enxofre para a recuperação do capim-Braquiária cultivado em solo proveniente de uma pastagem degrada. 2002. 152f. Dissertação (Mestre em Agronomia) - Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz”/Universidade de São Paulo, Piracicaba.

VILELA, L.; SOUZA, D.M.G.; MARTHA JÚNIOR, G.B. Adubação com enxofre e Gessagem. In: Cerrado: correção do solo e adubação. 2.ed. Embrapa, 2008. p.107-116.

Postado no site Milk Point

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Fatores que podem alterar a crioscopia do leite

 

Fatores que podem alterar a crioscopia do leite




Marcos André Arcari* e Marcos Veiga dos Santos

O índice crioscópico ou ponto de congelamento é definido como a temperatura de congelamento do leite, foi criado por Julius Hortvet (1920) para detectar fraudes causadas por adição de água ao leite. Embora a crioscopia seja uma das características mais estáveis do leite, pode apresentar variação. A legislação brasileira estabelece como índice crioscópico máximo do leite -0,512°C (ou -0,530°H), ou seja, valores mais próximos de zero (ponto de congelamento da água), são indicativos de adulteração do leite por adição de água.

Apesar da ocorrência de tentativas de fraude por alguns produtores, o índice crioscópico pode apresentar variações em faixas fora dos padrões aceitáveis pela legislação sem que tenha ocorrido fraude por adição de água. Estas variações também podem ser causadas por fatores tais como raça, qualidade da dieta, manejo de bebedouro, estágio de lactação, composição do leite, estação do ano e região geográfica.

O fator raça é responsável por diferenças acentuadas tanto na produção quanto na composição do leite. Os resultados de estudos que avaliaram a raça dos animais indicam que ocorre variação significativa sobre o índice crioscópico. Raças com menores produções de sólidos totais no leite proporcionaram menores valores para ponto de congelamento, ou seja, menos negativos. Isto indica que em rebanhos formados por raças que produzam menores teores de sólidos no leite tem mais elevadas as chances de que os valores do índice crioscópico aumentam, o que pode ser interpretado equivocadamente como fraude por adição de água em algumas situações. Diferenças raciais entre rebanhos devem ser levadas em consideração para uma análise mais correta dos valores de crioscopia.

A idade e o estágio de lactação dos animais é outro fator que exerce influência sobre a composição do leite produzido. Desta forma, deve-se considerar a idade e o estágio de lactação, pois o ponto de congelamento sofre flutuação para os animais de diferentes idades. Na tabela 1 são apresentados resultados de produção, composição e ponto de congelamento em função do estágio de lactação. Estes resultados indicam que avanço dos dias em lactação tem influência sobre o ponto de congelamento. Valores mais elevados do ponto de congelamento podem ser observados para os animais com menos de 100 dias em lactação comparadas com aquelas que ultrapassaram esse período. Também é possível observar que a depressão no ponto de congelamento (afastamento dos valores de 0ºC) apresentam-se de forma concomitante com a elevação dos teores de proteína, gordura e sólidos totais, reforçando o fato de que animais ou rebanho produtores de maiores teores de sólidos ou ainda que sejam compostos em grande parte por animais fim de lactação (característica de rebanhos com reprodução estacional) são menos propensos a produzirem leite que apresente valores para ponto de congelamento semelhantes aqueles encontrados em situações de fraude por adição de água.

Tabela 1 Produção, composição e ponto de congelamento do leite em relação ao estágio de lactação.



O conceito de análise da composição do leite para monitoramento da dinâmica de aproveitamento da dieta pelo animal tem sido cada vez mais difundido e usado por nutricionistas. O teor de ureia no leite é usado para avaliar a adequação da nutrição proteica da dieta de vacas leiteiras. Já o teor de proteína do leite fornece informações sobre o aproveitamento da fração energética da dieta consumida pelo animal. Deste modo valores de ureia e proteína no leite podem ser usados para verificar a adequação das dietas. Os teores de proteína e ureia do leite (figura 1) foram usados para classificar animais dentro de grupos, e deste modo, é possível observar que os animais com níveis de uréia no leite acima de 300 mg/L apresentaram redução do ponto de congelamento.




Figura 1. Depressão no ponto de congelamento em relação ao nível de ureia e proteína do leite.(Fonte: Matysek et al 2011.)

Os resultados dos estudos indicam que a média da depressão do ponto de congelamento é menor para os animais do grupo onde o teor de proteína do leite >3,5%, independente do nível de uréia, ou acima de 270 mg/L de uréia independente do nível de proteína, quando comparados com animais controle, ou seja, teor de ureia entre 150 e 270mg/L e teor de proteína entre 3,1 e 3,5%.

Alguns estudos demonstraram que a redução na eficiência do uso da proteína dietética resultou em diminuição do ponto de congelamento. Sendo assim o inadequado aproveitamento das frações proteicas (elevando os níveis de uréia no leite) e energéticas (diminuindo os teores de proteína láctea) da dieta dos animais pode influenciar diminuindo os valores do ponto de congelamento do leite.

A composição da ração e a acesso a água também são fatores que podem influenciar o ponto de congelamento do leite. O leite de animais alimentados com dietas de baixa qualidade podem apresentar valores de ponto de congelamento de até -0,480ºC, o que para a indústria provavelmente seria interpretado como um quadro de aguagem no leite. Quando os animais tem acesso restrito à água o ponto de congelamento diminui, reestabelecendo os valores da normalidade após 3 a 4 dias quando os animais voltaram a ter acesso irrestrito a água. Outro fator relacionado ao manejo do fornecimento de água aos animais está relacionado a animais que tem acesso limitado à água, e tem a possibilidade de matar a sede no momento imediatamente anterior a ordenha, como é o caso de animais que ficam presos a noite ou para a alimentação antes da ordenha. Este manejo pode provocar elevadas ingestões de água, o que pode resultar em marcada diminuição da pressão osmótica do sangue e consequentemente aumento na pressão osmótica do leite, resultando em elevação do volume de água que passa do sangue para o leite, o que consequentemente provoca elevação do índice crioscópico de forma semelhante a quando agua é adicionada no leite.

Como conclusão, podemos considerar o efeito da raça, teor de sólidos e estágio de lactação sobre o ponto de congelamento. Adicionalmente, é possível verificar que a elevação nos níveis de ureia no leite (> 300mg/L) e da concentração de proteína láctea diminui ponto de congelamento do leite. Os resultados dos estudos demonstram que o índice crioscópico pode indicar a ocorrência de aguagem no leite, realizada por alguns produtores com intuito de fraudar o volume de leite entregue a indústria. No entanto antes de inferir sobre um diagnóstico de fraude, alguns fatores ligados à raça, teor de sólidos do leite, teor de proteína no leite, estágio de lactação (numero de vacas em inicio de lactação no rebanho), manejo de bebedouros, qualidade da dieta e níveis de ureia no leite devem ser levados em conta, para que os reais motivos que possam estar afetando o ponto de congelamento sejam elucidados.

Fonte: Matysek, Monika, Kedzierska; Litwinczuk, Zygmunt; Florek, Mariusz; Barlowka, Joanna. The effects of breed and other factors on the composition and freezing point of cow’s milk in Poland. International Journal of Dairy Technology. August 2011.

*Marcos Arcari é médico veterinário e mestrando do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Produção Animal da FMVZ-USP (http://www2.fmvz.usp.br/nutricaoanimal/)

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Forrageira de alta qualidade, um insumo escasso no nosso meio?



Ao fazer-se uma comparação com as condições de produção leiteira nos países de clima temperado, a forrageira de alta qualidade parece-nos ser o fator de produção mais difícil de ser alcançado.
          Os demais componentes necessários para maior produtividade, como os alimentos concentrados, os suplementos especiais (como gordura e proteína protegidas da fermentação no rúmen), minerais quelatados, os aditivos em geral, os equipamentos e maquinário, a somatotrópica, a genética, os medicamentos e, mesmo, a capacitação da mão-de-obra e seu gerenciamento, enfim, todo e qualquer aspecto adicional de infra-estrutura e insumos que propiciem o bem-estar da vaca de boa produção leiteira e garantam a qualidade do leite, nós podemos, com maior ou menor empenho e dificuldades, produzir e reproduzir, satisfatoriamente, nas nossas diversificadas condições de exploração.
           Entretanto, por razões climáticas, a produção de forrageiras das regiões temperadas, com teor de FDN (fibra em detergente neutro) não superior a 50% da matéria seca (MS) da planta, fica restrita aos períodos de outono-inverno, especialmente na Região Sul.

O que é FDN? 
         Atualmente, o teor de FDN da forrageira é o melhor critério de avaliação de sua qualidade nutritiva. A análise laboratorial da FDN resulta num resíduo obtido pela extração dos componentes solúveis (açúcares, proteínas, amido, lipídeos, vitaminas e pectina) através da digestão do material vegetal com um detergente neutro. Esse resíduo é composto por substâncias da parede celular da planta, a celulose e a hemicelulose, com maior ou menor incrustação de lignina (um polímero resistente à fermentação no rúmen). Afora a pectina, que também faz parte da parede celular, mas é solúvel, as demais substâncias dissolvidas pelo detergente neutro são componentes do conteúdo celular da planta.

A FDN de uma forrageira afeta a sua ingestão pela vaca 
         Um teor de FDN de menos de 50% na MS é o fator primordial do maior potencial de consumo que uma forrageira de clima temperado apresenta, por duas razões básicas: em primeiro lugar, um baixo teor de FDN na planta corresponde a um maior teor de nutrientes do conteúdo celular, os acima mencionados, de rápida digestão, e, em segundo lugar, um baixo teor de FDN significa também que a celulose e a hemicelulose da parede celular apresentam taxa de fermentação mais rápida no rúmen, devido a sua menor lignificação. A maior taxa de fermentação da fibra vegetal contribui decisivamente para diminuir a repleção do rúmen, o que estimula o animal a realizar novas refeições, aumentando o consumo e sua produção.
         Essas forrageiras, denominadas também de plantas C3 (em razão de a molécula inicial, formada na fotossíntese, apresentar 3 átomos de carbono) toleram baixas temperaturas e menor luminosidade, sendo exemplos a alfafa, o azevém, a aveia, os trevos. 
         Por outro lado, as gramíneas tropicais, que são plantas C4 (a molécula inicial na fotossíntese apresenta 4 carbonos), como o capim-elefante, as espécies de Panicum, as braquiárias, os Tiftons, etc., têm maior potencial de crescimento, mas são de lenta taxa de fermentação no rúmen, devido ao seu maior teor de lignina, presente tanto nas folhas como nos seus colmos.

A limitação das gramíneas tropicais 
         A lignina é a substância que, quando em maior concentração, garante a rigidez dos tecidos, necessária para o porte geralmente ereto das gramíneas tropicais, aspecto importante para um rápido desenvolvimento nos períodos de ambiente favorável dos trópicos (suficiente umidade, altas temperaturas e muita luminosidade). Como consequência desse rápido crescimento, a grande maioria das gramíneas C4 apresenta menor teor de FDN somente durante um período relativamente curto.
         De modo geral, o teor de FDN dessas gramíneas, quando oferecidas aos animais, situa-se bem acima de 55% da MS, o que restringe o seu consumo pela vaca leiteira, basicamente devido à lenta fermentação no rúmen, resultando em períodos mais longos de enchimento gástrico.

A importância da fibra e seu efeito no consumo 
         A alta demanda energética da vaca em lactação é atendida pela suplementação com alimento concentrado, todavia, como ruminante, sua dieta requer um nível mínimo de FDN, ao redor de 25 % da MS. A fibra vegetal, com suficiente estrutura física (tamanho de partícula), é necessária para o funcionamento normal do rúmen, estimulando a ruminação e a decorrente produção de saliva, para a neutralização da acidez produzida pela fermentação. Para garantir a fibra estruturada no rúmen, 75 % dessa FDN deverá ser de origem forrageira. 
         Em termos mais práticos, isso significa que, não muito menos que a metade da dieta total ingerida deverá ser proveniente da planta forrageira, a qual, para altas lactações, necessita ter sua ingestão maximizada, de modo a suprir a elevada exigência energética, o que demanda forrageiras com teores de FDN abaixo de 50% na MS.
         Avaliando-se os resultados de muitas pesquisas, constatou-se que uma vaca consome, mais ou menos, o equivalente a 0,9 % do seu peso na forma de FDN proveniente de forrageira, ou 1,2% do seu peso na forma de FDN da dieta total (portanto, incluindo a FDN do concentrado). Por exemplo, uma vaca de 650 kg consumiria, então, ao redor de 5,9 kg de FDN de forrageira (650 kg x 0,9%). Essa relação entre um percentual do peso e o teor de FDN da forrageira permite uma estimativa do seu potencial de consumo e esses valores não são totalmente rígidos, podendo apresentar uma certa variação. 
         Portanto, se uma forrageira contém 50% de FDN na MS, uma vaca em lactação, de 650 kg, poderia ingerir até 11,8 kg de MS da mesma (5,9 kg FDN/50% de FDN na MS). Porém, se o teor de FDN de uma forrageira tropical fosse de 75% na MS, seu potencial de consumo seria de, no máximo, 7,8 kg de MS, ou seja, de 4 kg de MS a menos, e isso poderia resultar numa grande diferença no aporte de nutrientes ao animal. Na prática, quando do emprego de grandes quantidades de concentrado, o potencial de consumo das forrageiras dificilmente é alcançado, pelo efeito substitutivo negativo do alimento concentrado.

Como a forrageira de alta qualidade faz a diferença
         Para produzir 45 litros/dia, o consumo diário de MS da vaca de 650 kg não chega a ultrapassar os 24 kg, mesmo se a dieta apresentar, apenas, 25 % de FDN (resultando num consumo de, no mínimo, 6 kg de FDN). Daí, a ingestão máxima de concentrado (com 12% de FDN na MS), não deverá exceder 13 kg de MS/dia, o que corresponde a 1,5 kg de FDN proveniente do concentrado (13 kg MS x 12% FDN).
         Como já visto, para manter o rúmen funcionando normalmente, no mínimo 4,5 kg da FDN dessa dieta (75%) deverão ser da forrageira (6,0 kg de FDN total – 1,5 kg de FDN do concentrado). Se a forrageira for de qualidade sofrível, com FDN de 65% na MS, seu consumo estimado será de, apenas, uns 7 kg de MS (4,5 kg FDN/65% FDN), porém se esse volumoso apresentar 40% de FDN, o consumo alcançará 11 kg de MS (4,5 kg FDN/40% FDN), ou seja, uns 4 kg de MS a mais, possibilitando à vaca de 45 l/dia realizar seu potencial de consumo total de 24 kg de MS (13 kg do concentrado + 11 kg da forrageira) o que, novamente, para a vaca, implicará em grande diferença.
         No caso de se tentar fornecer a essa vaca uma dieta com forrageira de baixa qualidade, não será possível “compensar” sua baixa ingestão com mais concentrado, o que, além de ser antieconômico, afetará a saúde do rúmen, causando queda do teor de gordura do leite e acidose. Na verdade, em tais condições fisiológicas de acidose de rúmen, o consumo máximo de alimento nunca será alcançado, pois, além de inibir o apetite, o excesso de concentrado deprime o consumo da forrageira. 
         Pelos cálculos simples e aproximados dos exemplos acima, podemos ver que uma forrageira é de alta qualidade, isto é, de grande consumo, quando seu teor de FDN for inferior a 50% da MS da planta. 
         A máxima ingestão dessa forrageira é essencial nas dietas para alta produção leiteira, para fornecer a fibra necessária ao funcionamento normal do rúmen, e, concomitantemente, prover - através do maior teor de nutrientes solúveis - a energia demandada pela alta produção, com economia de concentrado e dos ingredientes e aditivos especiais (bicarbonato de sódio).

A opção de forrageira tropical de alta qualidade
         A esta altura caberia a pergunta: além da alfafa, aveia, azevém, trevos e demais leguminosas, cujos cultivos apresentam restrições climáticas, existiria uma outra opção de gramínea C4, com um teor de FDN que se aproxime do baixo teor das forrageiras C3 e que seja capaz de ser produzida, de modo sistemático e com alta produtividade, em situações climáticas diversificadas?
         A resposta é afirmativa, seria a planta inteira de milho, usando-se o híbrido mais adequado a cada região, colhido no ponto certo.
         Todavia, para que essa forrageira, originária dos trópicos, apresente um teor de FDN inferior a 55%, na forma de silagem, além do ponto de corte, a técnica de conservação deverá ter cuidados especiais, o que mereceria uma discussão específica em outra oportunidade.
 
Saiba mais sobre o autor desse conteúdo:
Paulo R. F. Mühlbach    Porto Alegre - Rio Grande do Sul

segunda-feira, 26 de março de 2012

Suplementação e manejo alimentar do gado leiteiro



O manejo nutricional de um rebanho vai muito mais além do que a simples formulação de dietas. Apesar de essencial, a formulação de dietas bem balanceadas, utilizando alimentos volumosos e concentrados de boa qualidade, é apenas o primeiro passo para uma infinidade de outros procedimentos necessários para o sucesso de um manejo nutricional. Em rebanhos leiteiros, essa realidade não se faz diferente.
O médico veterinário Arlindo Pacheco Junior disse que não existe momento ou época ideal para suplementar o gado leiteiro. O ideal é dar condições para que as vacas expressem todo o seu potencial para produzir cada vez mais. Sem que haja restrições nutricionais. “O manejo de vacas leiteiras nas três últimas semanas pré-parto, têm grande impacto na produção, reprodução e saúde da mãe durante a futura lactação”. O doutor explica que vacas que parem magras, com condições corporais abaixo de 3,5, não possuem reservas de energia suficientes para apresentarem pico de lactação alto. “Vacas que parem com excesso de condição corporal, especialmente com escore acima de 4,0 são mais propensas a apresentarem distúrbios metabólicos após o parto, baixa produção de leite e perda excessiva de condição corporal”, ressalta. Dessa forma, para que o animal apresente a produção esperada, além de receber dieta balanceada, é necessário que a vaca atinja o consumo adequado. Ele comenta que caso o consumo esteja abaixo do exigido, a produção esperada de leite só será atingida à custa do uso de reservas corporais.
São inúmeros os fatores relacionados à ingestão desses alimentos pelos animais que estão diretamente relacionados ao manejo diário da propriedade. Tais como:
 
  • Manejo pré-parto;
  • Condições corporais ao parto;
  • Qualidade da forragem;
  • Manejo da silagem;
  • Disponibilidade de água de boa qualidade;
  • Problemas sanitários (doença nos cascos);
  • Manejo de cocho (limpeza, área por animal, disponibilidade de alimento);
  • Horário de alimentação (parcelamento do fornecimento);
  • Separação de vacas primíparas de segunda lactação ou mais;
  • Uso de rações completas;
  • Número e horários de ordenha;
  • Bem-estar animal (visando reduzir o nível de estresse)
 
 
Tratando-se de custo/benefício, Pacheco destaca que o objetivo principal de um sistema sustentável de produção de leite deve ser procedido assim: maximizar a receita e subtrair os custos com alimentação. “É fato dizer que a alimentação representa grande parte dos custos de produção. Dentro desses parâmetros estão sinônimos relacionados à de eficiência econômica”.  O doutor enfatiza que é possível obter rentabilidade elevada produzindo a custos maiores, desde que estes custos resultem em maior rentabilidade do sistema. “Esse é o conceito que sustenta a viabilidade da suplementação com concentrados”.
Em relação ao fornecimento dos alimentos concentrados, Pacheco aconselha que o mesmo deva ser administrado após a ordenha. De forma a evitar a contaminação dos tetos, pois o animal é obrigado a permanecer em pé.  Permitindo assim o fechamento do esfíncter do teto. “A utilização correta do concentrado é instrumento potente para aumentar a produtividade do sistema, devido ao impacto na produção individual da vaca e ao aumento na lotação da pastagem e conseqüente aumento na produção de leite por área”, destaca.
É importante lembrar que as vacas apresentam requerimentos nutricionais distintos nos diferentes estágios de lactação. Por isso, em muitos rebanhos as dietas fornecidas são diversificadas. “Nas primeiras semanas em lactação, as vacas geralmente não respondem a dietas com mais de 5% de extrato etéreo, mas são beneficiadas pelo uso de uma dieta com maior concentração protéica. Neste período do início da lactação, vacas de leite estão mais sujeitas a distúrbios digestivos”.  Dessa forma, é aconselhável que o produtor forneça dietas com teor maior de FDN. No entanto, dietas com alto teor de FDN e baixa concentração de gordura não suportam altos níveis de produção de leite. O doutor aconselha o fornecimento de mais de uma dieta para grupos em lactação.
O doutor ressalta que a suplementação além de essencial é viável no que diz respeito à maximização da produção. Ele recomenda que o manejo nutricional deva ser procedido de forma correta. “Atualmente, existem inúmeras tecnologias simples e eficientes. O produtor deve abandonar a idéia passada relacionado ao extrativismo e adotar essas novas metodologias de produção mais modernas e viáveis. O que de fato irá contribuir positivamente na eficiência e na viabilidade econômica do sistema”, conclui.

Matéria publicada pelo site Fort Sal e adaptada pelo Blog da Indústria

quarta-feira, 21 de março de 2012

FUCAMP visita a Indústria

No último sábado, dia 10 de março de 2012, os alunos do 5° Período do Curso de Engenharia Agronômica da FUCAMP, fizeram uma visita à Indústria de Rações Retiro da Roça Ltda.. Os alunos tiveram a oportunidade de conhecer a rotina de uma fábrica de rações, bem como todos os processos envolvidos desde o recebimento da matéria-prima (milho, farelo de soja, farelo de algodão) até o produto final, a ração. A visita estava dentro do cronograma de aulas práticas da disciplina de Nutrição Animal, ministrada pela Professora Veridiana Aparecida Limão Barbero e foi acompanhada pela Coordenadora do Curso de Engenharia Agronômica, Professora Cinara Xavier de Almeida. Os alunos foram recepcionados na fábrica pelo Diretor de Controladoria, Sr. Dário da Silva Melo, que fez uma apresentação da empresa. Também estavam presentes o Sr. Clariano Francisco Filho e Donizete José Pereira, idealizadores da Indústria de Rações Retiro da Roça Ltda. O Sr. Clariano contou um pouco da sua história aos alunos.